Por Roberto de Sá
Pessoal, em primeiro lugar eu quero pedir desculpas a todos por não ter postado nada e nem ter atualizado a comunidade "Notícias de Friburgo" desde a madrugada de sexta para sábado. Acontece que tive que ir Friburgo para buscar familiares e para tentar achar meu amigo Douglas Brantes, com quem eu não conseguia contato. Vou tentar fazer aqui um pequeno relato de como foram esses quase dois dias que passei na cidade.
Pra começar, saí de Rocha Miranda por volta das 08:30 da manhã de sábado em direção à serra fluminense. Na mala do carro levei quatro sacolas que roupas que consegui fazendo uma "limpa" no meu armário. Haviam também algumas peças doadas por minha esposa e minha mãe, e uma pequena sacola de roupas e mantas para crianças de colo que eram do meu filho, mas que ele já não usava mais. Segui pela ponte Rio-Niterói e fui para a RJ-116. Havia recebido informações de que teriam caído duas barreiras no trecho dessa estrada que passa pela serra, mas não vi nada de grave no caminho. A coisa começou a ficar mais séria a partir de Mury, que é a segunda ou terceira localidade (não sei exatamente) depois da entrada da cidade. Pra ser sincero, fiz algumas imagens em vídeo com uma câmera fotográfica, desde a RJ até o centro de Friburgo, mas a memória da maquina esgotou enquanto eu tentava chegar ao bairro Duas Pedras.
A partir de Mury foi possível observar diversos pontos de deslizamento das encostas e alguns trechos onde a pista cedeu devido ao volume de água. Durante o percurso avistei diversos carros de polícia, bombeiros, defesa civil e voluntários que trafegavam com sirenes e em comboio, em ambos os sentidos da via.
Até aí estava tudo normal para essa época do ano (quem conhece a cidade sabe que todo ano esse tipo de coisa acontece por lá, com exceção, é claro, dos comboios de carros de ajuda). A situação foi ficando mais séria a partir da subida do viaduto que dá acesso à praça do Paissandú. Muitos caminhões e ônibus do exécito em movimentação frenética trabalhavam com muito empenho. Ao chegar a praça, tive a primeira visão do que realmente estava acontecendo por lá: lama por todos os lados. Em seguida, ao entrar na avenida, a coisa ficou ainda pior, pois junto à lama, amontoavam-se restos de vegetação e muito lixo. Móveis, eletrodomésticos, pedaços de carros, partes de estruturas metálicas e entulho por toda extensão das calçadas... o cenário era estarrecedor. Tentei ir direto a Duas Pedras para ver se conseguia informações sobre o Douglas e a família dele, mas após uma hora de engarrafento, eu ainda estava em frete a Comercial Friburguense, e nesse momento começaram a passar caminhões das forças armadas carregados com o que pareciam ser corpos. Digo isso pois os militares que ocupavam as cabines utilizavam máscaras para protegê-los do cheiro, que, sem exagero algum, era horrível.
Comecei a pensar que seria impossível chegar de carro a Duas Pedras e então retornei pela "mão inglesa" para tentar chegar ao bairro de Nova Suíça e assim pegar minha moto, que pude observar ser o único tipo de veículo não-oficial/militar que conseguia trafegar por aquele transito caótico. Consegui acessar as Braunes pela rua Monte Líbano e subi pela rua Sarah Braune que estava tomada por uma barreira imensa, mas que já havia sido aberta para a passagem de um carro por vez. Já la em cima, após a Curva da Macumba, passei por um trecho de uns 20 a 30 metros onde um terreno a beira da rua cedeu e está forçando a passagem em meia pista. Desse ponto até Nova suíça me deparei com algumas pequenas barreiras mas nada com gravidade e tive uma surpresa ao chegar; O bairro estava praticamente intacto, com exceção de uma grande barreira que não atingiu casas mas interrompeu o transito na frente da padaria "Nova Delícia", mas que já havia sido aberta.
Peguei a moto e fui até a subida do orfanato, na Chácara do Paraíso para ver meus familiares. Lá estava tudo bem e então parti para Stucky para ver se como estavam alguns amigos, mas tudo estava bem também.
Na manhã de domingo fui até Duas Pedras e o que encontrei lá me deixou um tanto abalado. Muita destuição, lama e equipes de socorro pois o bairro foi muito atingido. Fui obrigo a deixar a moto na estrada Friburgo-Teresópolis e caminhar pela rua João Belório (que foi muito atingida) para chegar até a rua São Pedro, onde mora meu amigo Douglas. A visão de uma barreira caída na frente da casa dele me chocou e não pude evitar o choro. Dois carros foram jogados contra a casa, mas a construção parece ter aguentado o impacto. Nesse momento meu Nextel tocou e era minha prima dizendo que estava tudo bem com ele que meu outro amigo igor havia telefonado e avisado que o Douglas estava bem. Na mesma hora liguei (ovamente) para ele e consegui falar. Voltei imediatamente para casa, peguei o caro e fui para a Chacara do Paraíso para buscar meus familiares. Viemos para o Rio e, mais uma vez, constatamos que a serra estava sem problemas para a passagem dos veículos.
Não quero dizer, com isso, que devam se dirigir a Friburgo, pelo contrário. A orientação das equipes de socorro são para que só vá a cidade aqueles que quiserem retirar familiares e/ou amigos, pois as provisões estão escassas e, além disso, o grande número de pessoas está atrapalhando o tráfego dos veículos de resgate. Outra orientação é que as pessoas que estão por lá, e têm a possibilidade de ir para casas de veraneio, amigos ou parentes, que saiam da cidade.
A situação é séria, e doações são necessárias, principalmente de material de higiene pessoal, calçados e curativos, como gase, ataduras e remédios.
Relato do amigo que tem familiares em Nova Friburgo.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
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